Existe uma vacina melhor contra a Covid-19? Veja o que dizem especialistas

Em decorrência das pessoas que decidem aguardar por imunizantes de marcas específicas, os chamados “sommeliers de vacina”, especialistas apontam riscos de atraso no ritmo de vacinação.

No momento em que estados e municípios avançam na vacinação contra a Covid-19 no Brasil, ainda surgem especulações sobre qual seria o melhor imunizante disponível. Hoje, são aplicadas na população brasileira as vacinas CoronaVac (Butantan/Sinovac), Comirnaty (Pfizer/BioNTech), e Covishield (AstraZeneca/Oxford).  

Mas qual delas seria capaz de dar maior proteção contra o novo coronavírus (SARS- CoV-2) e, ao mesmo tempo, provocar o mínimo possível de reações adversas? Neste momento, existe alguma vacina melhor, superior às demais? De acordo com especialistas consultados pelo Diário do Nordeste, a resposta é não.  

Segundo ele, para além das comparações, o resultado de aplicação de todos os imunizantes tem surtido efeito positivo nos lugares onde a vacinação ultrapassou pelo menos metade da população. “Os números já estão mostrando que a vacina funciona, [com] queda no número de casos e no número de óbitos”, observa o infectologista.  

Pesquisador em Saúde Pública na área de Controle Microbiológico e coordenador do Laboratório de Biologia Molecular da Fiocruz Ceará, Eduardo Ruback considera impossível apontar, neste momento, se há vacina melhor do que as outras. 

Todas as vacinas passam por processos de produção distintos. Por isso, diz ele, a definição de qual seria a melhor pode ocorrer somente após a finalização de todos os estudos de Fase IV, de cada uma delas. “O que vai levar alguns anos de acompanhamento ainda. E, pode acreditar, todas elas serão melhoradas e atualizadas nesse processo”.  

Os estudos existentes já apontam, de forma preliminar, que algumas vacinas apresentam melhor proteção inicial, enquanto outras, proteção mais duradoura. Logo, não é possível igualá-las e traçar uma comparação. 

“O mais importante é saber que todas as vacinas disponíveis são muito eficientes para conferir a proteção inicial. No momento, a gente precisa urgente é de um maior número de pessoas vacinadas e não de pessoas vacinadas com determinada vacina, de determinado fabricante”, frisa o pesquisador.  

ESCOLHA POR VACINAS PREJUDICA PROTEÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA 

Ao contrário do que normalmente se vê, a eficácia não pode ser tomada como um parâmetro de comparação entre as vacinas. Não é porque a CoronaVac demonstra eficácia de 50,7%, que ela se tornará automaticamente inferior à Comirnaty, com 95% de eficácia.  

Quando as pessoas decidem aguardar por imunizantes de laboratórios específicos, se transformando nos chamados “sommeliers de vacina”, o próprio avanço da vacinação no País pode ficar comprometido, avalia o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha. Consequentemente, há prejuízos individuais e coletivos. 

“O principal risco [dessa espera] é as pessoas não se vacinarem. [Elas] podem ficar aguardando por determinada marca de vacina e perdem a oportunidade de já estarem se protegendo. Isso também atrapalha a própria campanha de vacinação. Então, nossa orientação é que a melhor vacina é aquela que está sendo aplicada em seu braço e a gente tem que estimular isso”.  

COMPARAÇÃO NÃO HABITUAL 

Para o presidente da SBIm, a seleção e comparação de vacinas contra a Covid-19, especificamente, é uma situação não habitual no Brasil. São imunizantes diferentes, mas que protegem contra o mesmo vírus. No caso da vacina contra a gripe, por exemplo, o brasileiro nunca selecionou que tipo de vacina tomaria, mediante seleção do que considera melhor marca ou laboratório. 

“A rede pública tem uma vacina que protege contra a meningite e temos outras vacinas que ampliam a proteção. Até tem essa procura por outras vacinas para ampliar a proteção nesse sentido, mas […] vacinas com mesmo perfil, mesma proteção, mesmo tipo de vírus ou bactéria, a gente não tinha isso. Nunca tinha ocorrido anteriormente”. 

Questões políticas ou mesmo simpatia a determinada marca e/ou país também são parâmetros de comparação hoje adotados. “Aí entra uma série de fatores que não deveriam fazer diferença e que normalmente as pessoas nunca foram atrás de saber”, soma Keny Colares.

“Infelizmente, enquanto houver replicação viral descontrolada, poderão surgir novas variantes e isso não nos dá uma eficácia 100% no controle da infecção. Mas todas as vacinas que estão disponíveis, que foram aprovadas pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], têm uma boa proteção para as formas graves e reduzem drasticamente os casos de hospitalização e morte. Então, a melhor vacina é a que estiver disponível”, reforça a enfermeira. 

COMO FUNCIONAM AS VACINAS DISPONÍVEIS?

CORONAVAC

A CoronaVac utiliza estratégia de induzir o sistema imunológico humano a se defender do agente causador da doença através de um vírus inativo. Apesar de estar desativado, o vírus é reconhecido e identificado pelo organismo como uma ameaça. Com isso, o sistema imunológico trabalha para proteger o organismo, produzindo anticorpos. Por estar desativado, o vírus não pode se multiplicar e causar a doença. Ou alguma outra qualquer, como já chegou a ser cogitado. 

COVISHIELD

No caso da vacina da AstraZeneca, a estratégia é utilizar a tecnologia conhecida como vetor viral. Nela, um vírus diferente é modificado para “parecer” ao organismo com o novo coronavírus e estimular a produção dos anticorpos.  

COMIRNATY

A vacina da Pfizer/BioNTech utiliza de uma tecnologia recente de RNA Mensageiro – um ácido nucleico – que leva a informação para formar a proteína da Sars-Cov-2 dentro do organismo. Quando essa proteína do vírus é produzida, o organismo então produz os  anticorpos e células específicas para essa proteína igual a outras vacinas.